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quinta-feira, maio 20, 2004

ENDGAME NO KARNART - CONSOLO PARA A ALMA 

Acabei de chegar do teatro e venho ainda a pairar uns metros acima do nível do mar. É raro assistir a espectáculos que me entusiasmem tanto como este magistral "Endgame" do "meu" Beckett. Ainda há pouco tempo a Lia Gama nos tinha dado uma excepcional Winnie dos "dias felizes" no Teatro Mário Viegas e agora o Teatro Meridional associa-se aos Primeiros Sintomas para darem vida a este despojado, arriscado, metafórico trabalho de uma subtil agudeza que fere ao mesmo tempo que faz rir.
Desculpem escrever sem muita ordem, mas é que não sei por onde começar, se pela encenação, se pelo texto, se pelos actores... O humor irreverente do Beckett ganha aqui dimensões que roçam o absurdo mas de uma forma tão humanizada que quase nos parece o absurdo do nosso dia-a-dia, Miguel Seabra, no filho-escravo é, provavelmente, o responsável pela humanidade tão comovente que atravessa todo o espectáculo. Tudo neste actor é pura generosidade e há quantos anos eu o persigo! João Lagarto no meio Hamlet é de um rigor só ultrapassado pelo risco de se atirar sem ver - a cegueira da personagem parece ter contaminado o actor que se atira de altos penhascos parecendo não estar a ver de onde se atira mas quando toca no chão, fá-lo com delicadeza e segurança e, no entanto, esticou a corda do risco até um limite insuspeitado. Gonçalo Waddington não perde um segundo a sua personagem, o velho pai que, ajudado por uma luz que lhe altera por completo a fisionomia, nos faz balançar entre a compaixão e a pena durante as curtas cenas em que, por vezes, dialoga com a mulher, actriz segura e expressiva que firma um jogo de palavras difícil através de uma direcção cuidada e inventiva. Aliás, um grande aplauso para o Bruno Bravo que encenou este texto com uma inteligência, uma coerência e uma economia absolutamente notáveis! O brilho que todos os actores ganham em cena não seria tão luminoso se não tivesse um cuidadoso e amadurecido encenador por trás deles.
Eu estou grato por esta noite! Faz-me esquecer as grandes secas que tenho apanhado em salas de teatro mais nobres! o Beckett também deve estar muito feliz. Ouso citá-lo numa frase que sempre me acompanha: "Falhar, falhar de novo, falhar melhor". Os artesãos deste espectáculo estão a falhar cada vez melhor.
Ah! facto curioso e que me deixa ainda mais feliz! Hoje é quarta-feira e o teatro estava esgotado!
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quarta-feira, maio 05, 2004

DAZKARIEH - O SONHO AINDA É POSSÍVEL 

há uns dias atrás, o vasco ribeiro casais, excelente músico que fez comigo um espectáculo em que juntei a anamar, a né ladeiras e a pilar homem de melo no palco do teatro maria matos, convidou-me para escrever as ´letras do segundo disco dos Dazkarieh, banda que ele fundou e que faz um som de fusão pleno de vitalidade.
fiquei muito contente com este convite, não só pela qualidade do trabalho deles mas também por eles estarem a fazer o caminho das pedras, o caminho mais difícil, sem apoio de editoras ou de patrocinadores. difícil mas o único possível no momento musical que atravessamos.
acabei agora de escrever a segunda letra para eles, chama-se ROSA DE LAVA e estou ansioso por ouvi-la mas também com o nó na garganta que me fica sempre que vou mostrar a alguém o meu trabalho, é indiferente serem os Dazkarieh ou o ney matogrosso. o meu medo de não ter tocado na alma de quem vai cantar as minhas palavras é sempre o mesmo.
por isso, já reservei lugar para o espectáculo de apresentação do disco que vai acontecer nas ruínas do carmo no próximo dia 17 de junho. não deixem de ir, e não é para ouvirem as minhas letras, é porque o trabalho deles é mesmo especial, revigorante, entusiástico e, acima de tudo, vital!!!
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